Rico Dalasam vive hoje uma de suas melhores fases. Entre processos de cura e libertação sentimental, o rapper paulistano tem se aprofundado cada vez mais na construção de composições marcadas pela visceralidade dos temas e forte aspecto confessional dado aos versos. Um doloroso, porém, necessário exercício de exposição emocional que alcançou sua melhor forma durante a produção de Dolores Dala Guardião do Alívio (2021), mas que continua a reverberar de forma bastante sensível em cada mínimo fragmento poético de Fim Das Tentativas (2022, Independente), mais recente lançamento do artista.
Inaugurado pelos sentimentos inquietantes que dominam os versos da agridoce De Longe – “Me tornei calmo, assim como os vendavais são, de longe” –, o trabalho que conta com produção de Dinho Souza, parceiro de longa data do artista, diz a que veio logo nos minutos iniciais. É como um delicado exercício apresentação. Um texto manifesto que destaca o peso da memória, recordações de um passado ainda recente e a necessidade de seguir em frente, proposta que tem sido explorado pelo rapper desde o lançamento do trabalho anterior, mas que aponta para novas direções, diferentes temáticas e soluções.
Com todos esses elementos em mãos, Dalasam abre passagem para o restante do trabalho. São letras sempre marcadas pela força das emoções e estruturas contrastantes que se dividem entre o alívio e a dor. “O que sei sobre o amor, eu inventei / Inventei um jeito pra me amar / E quando alguém se sente amado por mim / Eu penso que deu certo o que eu precisei inventar“, detalha em Guia de Um Amor Cego, composição que evidencia o refinamento dado aos versos, destaca a produção de Souza e ainda se completa pela voz atmosférica de Céu, lembrando o encontro entre Frank Ocean e Beyoncé na também delicada Pink + White.
Esse mesmo esmero no processo de criação, porém, partindo de uma abordagem parcialmente distinta, acaba se refletindo minutos à frente, em Ando Me Perguntando. Como forma de romper com o aspecto monotemático do registro, centrado em essência no romantismo dos versos, Dalasam se aprofunda em realizações pessoais e conflitos referentes à própria jornada. “Ando me perguntando a vida inteira / Que tanta fronteira que ando travando / Eu não chego nunca, eu saí faz tempo / É tanta pergunta, eu tô perguntando“, reflete em meio a citações sobre antigas amizades que surgem ao longo da canção.
Nada que prejudique a formação de músicas marcadas pelo aspecto sentimental. É o caso de Tarde D+. Enquanto a base da composição segue de onde o artista parou há poucos meses, durante o lançamento de 30 Semanas, Dalasam sustenta na construção dos versos uma de suas criações mais acessíveis, mas não menos impactantes. “Ostra feliz não faz pérola / Me vejo ostra aberta / Que já fez pérolas mil“, detalha enquanto abre passagem para o refrão que parece pensado para grudar na cabeça do ouvinte. “Demorou demais / Por favor, dá linha / Já tem outro rapaz / Me chamou pro bar / Diz que tá na minha“, dispara.
Passado esse momento de breve euforia, o rapper se encaminha para o fechamento do trabalho com a própria faixa-título do registro, uma de suas criações mais poderosas. “Não temos o que dizer / Se esse é o fim da tentativa / Também tive que morrer / Pra deixar tu morrer da minha vida“, detalha em meio a coros de vozes que se completam pela participação dos curitibanos daTuyo. É como o encerramento de um ciclo e passagem para uma nova fase na carreira e vida sentimental do artista. Instantes em que Dalasam utiliza de conflitos pessoais como forma de oferecer uma solução para as dores e tormentos de qualquer ouvinte.
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