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Crítica | Jessie Ware: “That! Feels Good!”

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Jessie Ware parece ter se encontrado nas pistas. Não por acaso, ao mergulhar no quinto e mais recente trabalho de estúdio da carreira, That! Feels Good! (2023, EMI / Universal Music), a cantora e compositora britânica não apenas segue de onde parou no álbum anterior, What’s Your Pleasure? (2020), como ainda mergulha de forma consciente em busca de um repertório dançante. “Isso é bom! Faça de novo! Faça de novo! Faça de novo!“, repete logo nos minutos iniciais, na introdutória faixa-título, música que serve de ponte para o registro passado e ainda prepara o terreno para o que será incorporada no presente disco.

Ainda inspirada pelo som de veteranas como Chaka Khan, Donna Summer e Diana Ross, a artista parte de um necessário senso de atualização em que amplia os limites da própria obra. São composições que continuam a vagar pelas pistas, detalhando linhas de baixo sempre suculentas e batidas que convidam o ouvinte a dançar, mas que buscam explorar diferentes propostas criativas. Canções que vão da cultura Ballroom ao som empoeirado da Italo Disco, do repertório de RuPaul à efervescência da cena nu-disco que movimentou Nova Iorque nos anos 2000. Uma abordagem tão referencial quanto hoje íntima de Ware.

Parte desse resultado vem do esforço de Ware em preservar o time de colaboradores do disco anterior, incluindo o sempre requisitado James Ford (Pet Shop Boys, Depeche Mode) porém, estreitando relações com novos parceiros em estúdio. É o caso do veterano Stuart Price (Madonna, Dua Lipa), com quem divide algumas das principais faixas do álbum, como Free Yourself. Ponto de partida para o restante da obra, a composição entregue em julho do último ano destaca o refinamento dado aos arranjos, uso de metais e componentes orgânicos na mesma medida em que reforça a relação da cantora com a música eletrônica.

Vem justamente desse cruzamento de informações o estímulo para algumas das principais composições do disco. Em Pearls, por exemplo, sintetizadores futurísticos se completam pela percussão cristalina e uso destacado dos vocais, lembrando o refinamento explícito em diferentes exemplares do city pop. O mesmo esmero pode ser percebido em Begin Again, criação que atravessa a década de 1970 para dialogar com as criações de nomes como Hercules & Love Affair. Nada que impossibilite Ware de se aprofundar em uma estética específica, como na urgência de Freak Me Now, faixa que destaca o lado sintético do repertório.

Mesmo quando se distancia momentaneamente da busca por composições dançantes, Ware e seus parceiros continuam a surpreender o ouvinte. Perfeita representação desse resultado acontece em Hello Love, música em que evoca Sade, porém, traz de volta uma série de elementos que marcam os primeiros trabalhos de estúdio, vide os arranjos sofisticados de Devotion (2012), Tough Love (2014) e Glasshouse (2017). Surgem ainda criações curiosas, como Lightning, em que volta a flertar com o R&B, e Beautiful People, faixa em que se aventura pelos arranjos ensolarados e temas tropicais típicos do brazilian boogie.

Marcado pelo evidente senso de celebração, conceito explícito desde o registro anterior, That! Feels Good! corre o risco de parecer uma obra demasiado escapista em uma audição superficial, porém, sustenta no uso de temas como acolhimento, amor e nos pequenos diálogos com a comunidade LGBTQIA+ um precioso componente político. É como um espaço aberto à libertação. Uma colorida formatação de ideias que busca resgatar e preservar uma série de elementos historicamente relacionados a grupos minorizados, porém, partindo de um exercício de atualização que tende a reverberar para além do limite das pistas de dança.

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